Este material foi adaptado pelo Laboratório de Acessibilidade da
Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em conformidade com a Lei 9.610 de
19/02/1998, Capítulo IV, Artigo 46. Permitindo o uso apenas para fins
educacionais de pessoas com deficiência visual. Não podendo ser reproduzido,
modificado e utilizado com fins comerciais.
Revisado por: Breno Mateus
Natal, Agosto de 2021.
DANTAS, José da Paz; ALVES, Maria Lúcia Bastos. Cachaça
potiguar: a relação com as atividades turísticas na ótica do patrimônio
cultural. Revista turismo estudos e práticas, Mossoró, v.9, n.2, p.
1-14, 2020.
[Todas as notas de rodapé encontram-se no final
do texto]
Página 1
CACHAÇA
POTIGUAR: A RELAÇÃO COM AS ATIVIDADES TURÍSTICAS NA ÓTICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL
José da Paz Dantas[nota 1] Maria Lúcia Bastos Alves[nota 2]
Resumo: O artigo
propõe apresentar uma discussão sobre o valor da cachaça enquanto patrimônio
cultural e sua relação com as atividades turísticas no Estado do Rio Grande do
Norte. Apoiado numa discussão a partir dos estudos históricos relacionados ao
setor turístico, especialmente no que diz respeito à gastronomia, a cachaça se
define não apenas como um importante instrumento para a construção de
identidades, mas, também, como um elemento capaz de tecer relações sociais,
políticas e econômicas. Isto é, um produto turístico capaz de proporcionar
novos destinos. O artigo contempla cinco alambiques localizados nas regiões
Leste Potiguar e Seridó, as quais oferecem uma historicidade e produção
significativa para o Estado do Rio Grande do Norte. Para definir o recorte, é
preciso buscar refinar essa seleção, especialmente ao lidar com fatos
históricos e legalidade dos estabelecimentos. Dessa forma, torna-se necessário
considerar a trajetória dos alambiques, períodos de maiores produções e
inserção no mercado turístico. Através de levantamentos documentais e
observações feitas em visitas de campo, a pesquisa tem uma abordagem
qualitativa com finalidade descritiva e exploratória, metodologia que nos
permite abordar questões em torno das articulações entre patrimônio, identidade
e turismo no Estado.
Palavras-chave:
Patrimônio
Cultural. Turismo. Rio Grande do Norte. Cachaça.
Talvez soe, à primeira vista, um tanto estranho falar
de cachaça como tema que embala um artigo, um termo
tão disseminado no mundo real do senso comum, carregado de ideias, sentimentos
e emoções, mas também podendo ter concepções de cientificidade, daí a ideia
aqui desenvolvida.
Página 2
Mais do que
uma simples espécie de bebida, é um elemento da história e da cultura
brasileira e suas diversas manifestações regionalizadas, mas também podendo ser
vista sobre os mais variados ângulos e campos de interesse.
Dentre as
múltiplas formas de ver esse fenômeno da cachaça, tem-se aqui o viés histórico
e cultural no contexto contemporâneo do turismo, o qual se articula na busca de
uma compreensão teórica e empírica.
Em termos
históricos, tendo em vista a questão dos indígenas, que originalmente habitavam
o território colonizado por portugueses e povoado por africanos, o país
construiu, ao longo dos séculos, um diversificado conjunto de bens culturais,
materiais e imateriais que muito dizem a respeito de sua história, e que
contribuem para a formação de sua identidade.
Esses traços
culturais, ou seja, as expressões, práticas e conhecimentos, transmitidos entre
gerações, formam o patrimônio cultural de um povo. Tal patrimônio merece ser
reconhecido e preservado por sua importância em si, por sua capacidade de
identificar um povo, pela possibilidade de contribuir para a coesão social,
como também pelo potencial de ser usado para a promoção do desenvolvimento
regional (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
- UNESCO, 2003; Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN,
2007; Mendes, 2012).
Uma das
formas viáveis para a utilização do patrimônio cultural, para o alcance do
desenvolvimento, diz respeito à percepção desse patrimônio como atrativo
turístico, através do Turismo Cultural, atividade que promove os bens de
natureza material e imaterial da cultura.
No Brasil,
ainda não é dada a devida atenção aos bens culturais, principalmente àqueles de
natureza imaterial. Isso tem ocorrido em um contexto caracterizado pela
globalização e por aceleradas transformações, principalmente tecnológicas,
facilitando o processo de transformação das tradições e dos costumes, das
culturas regionais, onde os objetos perdem a relação de fidelidade com os
territórios originários.
A
globalização se dá através de um processo onde as grandes organizações
econômicas se articulam em torno do capital financeiro internacional que,
segundo especialistas no assunto, é um fenômeno irreversível, tendo em vista
que a dinâmica do processo é determinada globalmente, fugindo do âmbito
nacional, restando aos países dependentes se adaptarem a essa nova tendência,
inclusive a transferência de riquezas para os países mais desenvolvidos
(Vieira, 2004: 86).
Considerando
que uma das etapas para valorizar e promover o patrimônio cultural consiste em
difundir o conhecimento sobre o mesmo, tendo em vista a grande diversidade
cultural do país, entre as quais podemos citar: vestimentas,
manifestações religiosas, tradições e gastronomia, cabe aos
pesquisadores realizar estudos que mostrem peculiaridades de cada região e que
ofereçam alternativas para a construção do desenvolvimento.
Nesta pesquisa, dentre os muitos bens culturais
existentes, dá-se destaque à cachaça - símbolo de brasilidade - nascida nos
tempos coloniais. Apesar de não ser registrada como patrimônio imaterial do Brasil,
reúne todos os pré-requisitos para que seja solicitado o registro, é hoje uma
das bebidas que mais sobressaem no cenário internacional (Silva, 2006), tendo
um significativo apelo mercadológico, inclusive turístico, mostrando
sua importância para a manutenção da história dos brasileiros, de conhecimento
da cultura e de agregação de valores à comunidade.
Página 3
Uma bebida
que já nasceu discriminada, assim como era a condição do povo que através dele
ela foi descoberta, os escravos negros e os mestiços, povo proveniente de sua
hibridação - processos socioculturais nos quais estruturas ou práticas
discretas, que existiam de forma separada, se combinam para gerar novas
estruturas, objetos e práticas (Canclini, 2008) com
índios e europeus. Tentamos mostrar outro lado dessa bebida, além da
marginalização, que é sua importância na história do Brasil, o seu papel
social, político e econômico que exerceu e exerce em várias situações do
cotidiano, mais recentemente na atividade turística.
Passando por
diversos processos de desenvolvimento em toda sua estreita relação com a
história, a cachaça tem se feito presente no dia a dia da cultura brasileira,
chegando a ser usada como um atrativo turístico-cultural. Já se percebem
algumas ações pontuais, que demonstram a preocupação de mostrar ao turista a
história, os usos e costumes do Brasil, como a criação de festivais e de
roteiros temáticos em engenhos, assim como a visitação a museus da cachaça,
como nos pioneiros Estados de Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará e
Paraíba, o que é uma tendência em outros Estados do Nordeste como no Rio Grande
do Norte, devido a sua cachaça de excelência.
Essas ações
de fomento à atividade turística, ainda que tímidas, dão mais força ao processo
de fazer com que o próprio brasileiro e o turista estrangeiro consigam
interpretar os aspectos culturais do país e especificamente dos Estados,
através da releitura dos mesmos, entendendo a importância econômica, social e
simbólica que a cachaça teve e ainda tem nessas regiões.
No entanto,
é preciso que tais ações se fortaleçam, para que o patrimônio cultural seja
efetivamente instrumento utilizado para o desenvolvimento do turismo. Não se
esquecendo da integração social, numa inclusão da comunidade local (grande
detentora de saberes e de costumes relacionados à cachaça), de empresas
privadas, do setor público e do terceiro setor.
Nos dias
atuais, ao se realizar uma viagem, ou se planejar através de informações
obtidas em revistas especializadas, em sites, ou até mesmo em promoções de
destinos turísticos, feitos por agências de turismo, percebe-se a relação
existente entre patrimônio cultural, gastronomia e turismo.
Podemos
tomar como base os destinos turísticos internacionais com suas peculiaridades
gastronômicas e bebidas típicas, tomando como exemplo a Escócia, onde temos a
proposta de visitar as terras da coroa britânica, fazer a associação entre
esses três elementos. Com suas construções medievais e gregorianas,
caracterizando o patrimônio arquitetônico, apelo cultural seja através da
realização de festivais de cunho cultural e gastronômico, onde se dá destaque
aos frutos do mar, seja pela existência dos “famosos” pubs e bares onde são
consumidos whiskys
de excelência, tendo em vista que é a bebida típica daquele país, a qual remete
a toda uma construção de uma tradição, sendo oferecidos aos turistas tours
sobre a história do puro malte (Silveira, 2014).
Também
existem, em outras regiões da Europa, as rotas dos vinhos, que se mostram como
uma das mais fortes tendências do Turismo mundial; essas regiões produtoras de
vinho que possuem esse potencial turístico se destacam, além da produção,
pelas suas paisagens naturais e boas acomodações, o que garante o sucesso do
destino.
Página 4
Como
exemplo, destacamos: Portugal, França, Espanha e Itália, que representam um
setor estratégico em termos de geração de divisas através da atividade
turística.
Em nível
nacional, também temos várias cidades do Estado de Minas Gerais, onde existe
uma valorização maior ao segmento de turismo cultural, explorando
principalmente a gastronomia, tendo como atrativo principal a produção de
cachaça artesanal. O roteiro possibilita ao turista vivenciar uma experiência
baseada na tradição culinária, podendo experimentar os sabores e os prazeres
proporcionados pelo modo de vida peculiar, atrelados às paisagens cênicas, como
as montanhas, além da própria história que contempla aspectos de cunho social,
político e econômico.
Partindo do
pressuposto de que a cachaça é um símbolo de “brasilidade”, e sua produção
abrange todo o território brasileiro, a presente pesquisa visa discutir essa
questão tomando como base os seus usos turísticos que, nas últimas décadas, vêm
se destacando no cenário turístico nacional e que podem ser usados, de certa
forma como ferramenta para um “resgate cultural” através de iniciativas que
podem ser tomadas em conjunto com o poder público e a comunidade local no
Estado do Rio Grande do Norte.
Assim, o
ponto de partida foi compreender e analisar as razões pelas quais a cachaça é
reconhecida como um dos elementos da cultura com forte tendência para ser
registrada como patrimônio imaterial do Brasil, e como essa peculiaridade pode
servir como potencial e atrativo turístico no Estado.
O estudo em
tela objetiva descrever o valor da cachaça como elemento histórico- cultural e
patrimonial e seu significado como potencial e atrativo turístico no Estado do
Rio Grande do Norte. Identifica os alambiques ao longo das várias localidades
produtoras no Estado, com o intuito de apresentar as formas de relação da riqueza
histórico-cultural e patrimonial da produção de cachaça artesanal com o
turismo.
Apoia em um
referencial empírico em particular, a produção de cachaça artesanal do Rio
Grande do Norte. Trata-se de um trabalho com levantamentos conceituais e
históricos, a fim de atingir os objetivos apresentados. Para isso, a pesquisa
será de natureza exploratória, usando-se de levantamento bibliográfico, com uma
abordagem qualitativa (Andrade, 2003; Dencker, 2007).
O artigo se
divide em cinco partes. A primeira versa a cerca de um referencial teórico
sobre patrimônio cultural e turismo, a segunda, gastronomia e turismo. Em
seguida, é apresentada a terceira parte, a respeito da investigação histórica e
a quarta, sobre o potencial turístico da cachaça potiguar, sua produção e
desenvolvimento e alternativas para seu uso. Por fim, constrói-se
algumas considerações finais a respeito.
2.
Patrimônio cultural e turismo
A
valorização da cachaça como patrimônio, e seguidamente como atrativo turístico,
precisa começar com o conhecimento de seu próprio povo criador a respeito dela,
já que, como afirmou (Câmara, 2004: 134), “só se ama e se pratica o que se
conhece”.
Conscientizar-se de que se é herdeiro, tendo uma
consciência histórica, é um grande passo que o Brasil deve dar. É preciso que o
povo brasileiro reconheça que aquilo o que ele é, deve a seu
passado, a suas origens.
Página 5
E para
conhecer a si mesmo, é preciso que olhe primeiramente para o passado, para
assim construir da melhor forma possível caminhos
alternativos para se chegar ao desenvolvimento.
A fim de
obter maior compreensão a respeito do que seja o patrimônio cultural e sua
relação com desenvolvimento e turismo, convém descompor a expressão e entender
o que cada termo significa isoladamente, para assim entender seu conceito.
A palavra
patrimônio vem do latim, patrimonium (que deriva de pater - pai) e era aplicada, originalmente, ao conjunto de bens
que pertenciam aos pais de famílias passando para seus sucessores. Ou seja, patrimonium
era o que se herdava, a herança. E herança traz
consigo a ideia de continuidade, de entrega e recebimento de algo (Rodrigues,
2003; Mendes, 2012), que supõe ter algum valor. Tal noção de valor herdado
torna-se essencial para a compreensão do que é patrimônio cultural.
De acordo
com Rodrigues (2003), esse conceito foi ampliado no século XVIII, quando passou
a nomear os bens culturais de uma nação, protegidos por uma legislação e por
medidas públicas específicas. Essa mudança ocorreu devido às ações do governo
francês, para proteger os monumentos históricos do país.
No que tange
ao termo cultura, dentre os vários conceitos que tem recebido, adotar-se-á
neste trabalho sua conceituação antropológica, que a retrata como uma
totalidade de traços de um grupo social (Lopes, 2013; Coelho, 2008).
Neste
âmbito, cultura diz respeito a todos os aspectos da vida social - o pensar, o
sentir, o saber e o fazer, referindo-se ao “conjunto de crenças, costumes,
valores espirituais e materiais, realizações de uma época ou de um povo,
manifestações voluntárias que podem ser individuais ou coletivas pela
elaboração artística ou científica” (Ministério do Turismo - MTUR, 2007).
Assim, a
cultura é um processo dinâmico, por meio do qual são transmitidas práticas,
valores e conhecimentos. Relaciona-se com o passado, o presente e o futuro, uma
vez que, segundo Barretto (2003), é ela que permite
que os grupos mantenham sua identidade, conheçam suas raízes, saibam quem são e de onde vieram, e ajuda a que saibam para
onde vão ou para onde não querem ir.
Os dois
termos - patrimônio e cultura - quando unidos, fazem nascer a
ideia de patrimônio cultural,
que corresponde ao “conjunto dos saberes, fazeres, expressões, práticas e seus
produtos, que remetem à história, à memória e à identidade desse povo” (IPHAN,
2007: 12). Ou seja, todo esse conjunto cultural, que foi herdado, está sendo
vivenciado e será repassado aos descendentes.
No Brasil, a
busca pela valorização e preservação do patrimônio se dá somente na década de
1930, principalmente com a criação do Serviço do Patrimônio Histórico e
Artísitico Nacional (SPHAN, atual IPHAN), por meio da Lei 378 e do Decreto-lei
25, ambos de 1937. Através deste órgão, conseguiu-se preservar muitos bens
culturais do país, tendo como foco o acervo arquitetônico, através de
tombamentos e restaurações. Este foco levou a que, nos anos que seguiram a sua
criação, patrimônio cultural chegasse a ser acreditado como sinônimo de
patrimônio arquitetônico (Pelegrini, 1997; Fonseca, 2009).
O fim da
década de 1970 pode ser considerado a segunda fase de destaque dentro do
processo de preservação, quando se ampliaram a abrangência das ações em prol do
patrimônio
cultural.
Página 6
Foi então
que órgãos paralelos ao SPHAN foram criados, e também órgãos estaduais e
municipais, como o Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico,
Artístico e Turístico (Pelegrini, 1997).
Foi também
nesta década, em 1972, que ocorreu em Paris, a Conferência Geral da UNESCO para
tratar da preservação do patrimônio mundial. Em documento gerado a partir desta
ocasião, considerou-se como patrimônio cultural os
monumentos (obras arquitetônicas, estruturas arqueológicas, etc.); os conjuntos
de monumentos e construções e; os locais onde houvesse obras humanas ou obras
do homem e da natureza conjugadas.
Percebe-se
que, mesmo que o conceito de cultura envolva também os aspectos imateriais,
como crenças e costumes, este conceito faz menção puramente a bens materiais,
não considerando os valores simbólicos dos povos.
Na década
seguinte, no entanto, mesmo mantendo a característica de bem passível de posse,
o termo mudou consideravelmente seu conceito, expandindo-se além do patrimônio
material. Passou a referir-se a tudo aquilo que o homem cria - seja com suas
mãos, ideias ou fantasias -, valoriza e quer preservar (Londres, 2001; Chuva,
2009).
Inclui,
portanto, as tradições e expressões culturais herdadas dos antepassados e
transmitidas aos descendentes, como tradições orais, práticas sociais, rituais
e festas, conhecimentos, e o saber-fazer (UNESCO, 2014). Assim, além da noção
de bens materiais, adicionou-se o que se chama de patrimônio cultural
intangível ou imaterial.
A
Constituição brasileira de 1988, em seu artigo 216, também incluiu essa
ampliação do conceito e constituiu como patrimônio
cultural os “bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou
em conjunto, portadores de referência à identidade, à ação, à memória dos
diferentes grupos formadores da sociedade brasileira” (Brasil, 1988: não
paginado).
Mais
recentemente, o Brasil ratificou documento da UNESCO sobre a salvaguarda do
patrimônio cultural imaterial, onde: Entende-se por “patrimônio cultural
imaterial” as práticas, representações, expressões, conhecimentos e técnicas -
junto com os instrumentos, objetos, artefatos e lugares culturais que lhes são
associados - que as comunidades, os grupos e, em alguns casos, os indivíduos
reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural (UNESCO, 2003: 3).
Em suma, podem ser considerados patrimônio cultural monumentos, a
gastronomia, crenças, o modo de fazer certo artesanato, uma obra de arte, entre
outros. Mas vale ressaltar que patrimônio não é só aquilo que foi convencionado
como patrimônio, é também o que é considerado de valor pelas pessoas, o que é
reconhecido por elas como referência de sua cultura e história. Ainda que isso,
para outras pessoas ou para o próprio mercado, não tenha valor (IPHAN, 2007).
Nesse
sentido, o patrimônio cultural, especialmente o imaterial, é considerado como
meio de estimular o sentimento de identidade, pertença, continuidade e
responsabilidade, contribuindo para a coesão social, a promoção do respeito à
diversidade cultural e a criatividade (UNESCO, 2003; Mendes, 2012).
Com esse
objetivo, nos planos pela valorização e preservação do patrimônio, tanto
nacionais, geridos pelo IPHAN, como mundiais, pela UNESCO, há propostas de
incluir entidades privadas e a comunidade do local onde se encontra o
patrimônio.
Página 7
Por exemplo, nas ações para identificação e definição dos
elementos do patrimônio cultural de um lugar. É indicado, inclusive, a inclusão
dos indivíduos criadores, mantenedores e transmissores dos bens patrimoniais,
quando possível, associando‑os à gestão dos mesmos, o que pode ser
aplicado nos alambiques do Rio Grande do Norte, tendo em vista todo seu acervo
histórico e patrimonial relacionado as construções
coloniais dos engenhos de cana-de-açúcar, a arte secular de produção de cachaça
artesanal e fatos históricos ligados diretamente as marcas de cachaças
potiguares.
Além do
objetivo de que o bem continue a existir, principalmente pelo fortalecimento da
identidade, essa integração e cooperação buscam também criar a consciência de
que “se explore o potencial desse bem cultural para o desenvolvimento da região
e para a melhoria da vida das pessoas” (IPHAN, 2007: 25).
O fato de o
patrimônio histórico poder fortalecer a identidade e o sentimento de pertença
acaba por transformá-lo num fator impulsionador na incorporação de lugares, com
seus devidos patrimônios, à atividade turística.
Para evitar
impactos negativos, o uso do patrimônio pelo turismo deve ser planejado de
forma que: a) sirva à comunidade local (no que diz respeito à preservação do
bem cultural e fortalecimento de sua identidade); b) preserve o patrimônio,
fato em si mesmo importante; c) construa uma consciência sobre a herança
cultural e; d) proporcione o encontro com o diferente, com símbolos culturais
diferentes (Figueiredo, Nóbrega, Bahía, & Piani, 2012).
3.
Gastronomia e turismo
Um dos
elementos que é símbolo, herança e patrimônio cultural, formador da identidade
de um povo, é a gastronomia. Assim, como outros tipos de patrimônio, a
gastronomia é comumente incorporada ao turismo como atrativo. Ela é um dos
fatores que diferenciam os povos, uma vez que é
formada através de influências históricas, clima e religião, que são peculiares
a cada região.
No Brasil,
por exemplo, a formação culinária se deu pela miscigenação das culturas
indígena, africana e portuguesa, gerando várias peculiaridades gastronômicas no
país, agregando valor a seu patrimônio cultural.
Um dos elementos
da gastronomia brasileira é a cachaça, mesmo que tenha sido criada pelos
africanos, de certo modo, da miscigenação dos povos, do modo de vida da época,
do saber-fazer passado entre gerações, resistente até hoje, é considerada como
herança e bem cultural brasileiro, podendo, portanto, ser instrumento para a
valorização do patrimônio nacional, para o desenvolvimento regional e para o
uso como atrativo/produto da atividade turística, evidencia o valor simbólico
que a gastronomia agrega ao patrimônio cultural nacional (Leal, 2005).
Certa vez,
em uma das mais célebres definições do conceito de história, Lucien Febvre afirmou que esta
área do conhecimento, a história, seria ao mesmo tempo uma ciência
do passado e do presente, acrescentando ainda que toda história, por esse mesmo
motivo, é contemporânea (Febvre, 1992).
Página
8
Isto é, a
pesquisa histórica seria a forma de discurso através da qual, mesmo tratando do
“passado”, o pesquisador atuaria em seu tempo, em seu presente, em sua
sociedade, explicando-a na sua contemporaneidade.
O estudo do
presente tem pelo menos como resultado obrigar a objetivar e a controlar as pré-noções que o pesquisador projeta sempre sobre o
passado, nem que seja empregando palavras do presente para o designar
(Bourdieu, 2006).
Em
concordância conceitual com os autores, cremos que, ao escolher um objeto de
estudo, todo pesquisador deveria exercitar certa “visão social”, voltando seu
olhar para o momento em que vive, buscando identificar, no presente, temáticas historiograficamente pertinentes e originais. Foi com base,
também, nestas pretensões que percebemos a possibilidade de ingressar nesse
campo de estudo.
Ainda com a
mesma perspectiva, utilizando-se agora da tradição, que nos remete à ideia de
permanência, no entanto, (Bosi & Bornheim, 1997) afirmam que essa tradição não pode ser original, ela está
presente no processo; assim, através da memória coletiva, buscamos elementos
onde possamos identificá-la, ou seja, a tradição está em constante transformação,
isso é inevitável, apenas existem elementos que fazem referência a um passado
histórico através de uma perspectiva do presente, capazes de proporcionar sua
manutenção e jamais resgatá-la. Quando se fala em “resgate”, submete-se à ideia
de originalidade e isolamento, e isso remete a um ponto de vista conceitual,
que não é mais utilizado atualmente.
Todos esses
aspectos com relação aos componentes integrantes da cultura brasileira que
servem de indicadores de uma identidade, mas que com o avanço da tecnologia,
principalmente pelos meios de comunicação, recebem novos componentes que são
agregados, sem que haja ou não a devida preocupação com o que essa agregação
possa causar, avaliar se é benéfico ou não.
Entendemos
que o processo de desenvolvimento de uma nação não seria somente o
desenvolvimento e o crescimento de receitas e bens materiais, mas também o
bem-estar de seu povo, o não desaparecimento por meio de transformações
abruptas de sua identidade; não podemos apenas voltar o olhar para o aspecto
econômico e ignorar nossa personalidade que foi construída com base em
elementos de nossa cultura, como o elemento estudado na presente pesquisa, a
cachaça, que está envolta em vários aspectos culturais.
De fato, a
expressão “cultura popular e tradicional” possibilita a interpretação que tende
a excluir expressões contemporâneas ou circunscrever esse universo a
manifestações de determinada classe ou camada social. Em outras palavras, ela
pode conduzir a um entendimento restrito sobre esse patrimônio, vinculando-o a
critérios rígidos de temporalidade, classe e autenticidade (MinC,
2006).
O que se
discute não é a cristalização de uma cultura ou tradição, e sim a harmonização
consciente, através do conhecimento prévio, com o intuito de incorporar, à
nossa cultura, componentes do desenvolvimento que agreguem valor de forma que ocorra
o progresso tecnológico, mas sempre caminhando ao lado dos elementos que dão a
identidade da nação brasileira.
Página 9
Modelos de
desenvolvimento econômico foram implantados em vários países do ocidente e de
modo mais simplista percebemos que obtiveram êxito no que diz respeito à
economia, mas por outro lado os mesmos modelos se mostraram ineficientes no que
diz respeito à satisfação (felicidade) do homem, à sintonia do povo com a sua história,
com sua memória. Ou seja, esse modelo de desenvolvimento pautado apenas em
aspectos quantitativos não foi uma solução satisfatória.
Não existe
outro modelo, que não aquele formado pelos elementos indicadores de uma nação
que são estáveis e que são permanentes, ou seja, não há outro caminho de
encontrar a identidade de uma nação, a não ser o conhecimento, a identificação,
a consciência coletiva, a mais ampla possível, dos nossos bens e nossos valores
culturais (Magalhães, 1985).
Os bens e
valores culturais a que o autor se refere são justamente os que podem ser
identificados através de uma reflexão histórica; referimo-nos aos costumes,
hábitos, modos de fazer, toda uma construção do nosso processo de produção
cultural, sendo esses bens usados como base para um processo de
desenvolvimento.
Tal
perspectiva faz sentido, quando vamos discutir sobre a produção de cachaça
artesanal, onde evidencia-se o processo do surgimento,
reflete-se acerca do papel da mesma como patrimônio histórico-cultural do
Brasil, partindo de uma análise sobre sua importância como participante do
processo de formação social, política e econômica para o país.
Se buscarmos
a originalidade da fabricação de cachaça, temos que deixar de lado todo o
avanço tecnológico de plantio, corte, moagem,
fermentação, técnicas de envelhecimento, tanoaria (arte de produzir barris e
tonéis), engarrafamento e comercialização, como também os profissionais que
trabalham diretamente com a prestação de serviços e consumo relativos à
cachaça, que são respectivamente o cachaçólogo,
mestre cachaceiro ou alambiqueiro, que produz a bebida, o cachaçófilo
ou pingófilo que aprecia, e o cachacista
que estabelece a relação entre os dois, proporcionando um melhor entendimento
entre os dois universos, ou seja, o técnico e o prático; não poderíamos sequer
pensar em exportação.
Tomando como
base as referências acima, podemos fazer a viagem de volta ao passado e
identificarmos com mais clareza esses elementos. Através dos estudos de (Silva,
2006) sobre bebidas alcoólicas, que evidenciam a presença do álcool como bebida
praticamente em todas as culturas humanas conhecidas, nos mais variados tipos
de civilizações.
Essa
investigação enfatiza a questão do processo em que se encontra determinada
tradição, no caso a tradição do consumo de bebidas alcoólicas por diversas
sociedades. A partir do momento em que se destaca a aplicação de técnicas de
destilação, onde anteriormente a bebida era simplesmente fermentada mostra essa
busca por inovações, por aprimoramento de técnicas para que cada vez mais o
produto possa ser melhorado.
Percebe-se
que a busca pelo novo não elimina uma tradição, a essência é mantida, busca-se
peculiaridades que só aquela bebida possui; com isso, com o passar do tempo as
bebidas nacionais vão sofrendo transformações, principalmente no que diz
respeito aos processos produtivos, mas sempre mantendo sua tradição, o que na
atualidade é um elemento importante para a utilização das mesmas no contexto da
atividade turística.
Página 10
5.
Potencial turístico da cachaça potiguar
Quando
especificamos a cachaça, referimo-nos ao mosto (sumo de frutas que contenham
açúcar), fermentado e posteriormente destilado da cana-de-açúcar; no mundo
inteiro existem destilados feitos a partir da utilização da mesma matéria
prima, porém, só pode ser denominado de cachaça a aguardente de cana-de-açúcar
fabricada no Brasil. Para isso existem alguns procedimentos como o Artigo 91 da
Lei n° 8.918, de 14 de julho de 1494, que dispõe sobre a padronização, a
classificação, o registro, a inspeção, a produção e a fiscalização de bebidas,
na redação dada pelo Decreto n° 4.851 (2003), que regulamenta dentro de padrões
estabelecidos as denominações de aguardente, cachaça, cachaça envelhecida e
cachaça adoçada, como também a solicitação junto à Associação Brasileira de
Propriedade Intelectual (ABPI), ou ao Instituto Nacional da Propriedade
Industrial (INPI), o selo de Indicação Geográfica (IG).
Atualmente
no Brasil, temos muitas regiões “famosas” e outras nem tanto, mas que possuem
um grande potencial na produção de cachaça artesanal. Algumas cachaças
artesanais já possuem o (IG) implantado, como é o caso das cachaças produzidas
nas cidades de Paraty no Estado do Rio de Janeiro e Salinas no Estado de Minas
Gerais.
Mundialmente,
a produção de cana-de-açúcar é de 1,4 bilhão de toneladas, numa área cultivada
de 15 milhões de hectares. O Brasil, com uma área plantada de aproximadamente 5 milhões de hectares, é o maior produtor, com cerca de 27%
da produção mundial. Seguem-se a Índia, Cuba, México, China, Paquistão, EUA,
Colômbia, Austrália, Filipinas, Tailândia, África do Sul, Indonésia e Argentina
(Silva, 2006: 35).
Tendo em
vista que as condições climáticas influenciam diretamente na qualidade das
bebidas, é impossível fabricar um destilado de excelência a partir da cana-
de-açúcar em todos os países onde ela é cultivada. Um dos fatores mais
importantes para a produção da aguardente de cana é o sol. Em locais onde há
pouca incidência solar a bebida tende a ter uma acidez elevada; já nos países
onde a incidência solar é forte, caso do Brasil, principalmente a Região
Nordeste, onde está localizado o Estado do Rio Grande do Norte, propicia uma
concentração maior de açúcar, produzindo mais álcool, ou seja, a bebida, no
caso a cachaça, com um maior teor alcoólico e menor acidez.
Mesmo com
algumas regiões destacando-se na produção da cachaça, com pesquisas que mostram
a questão das escalas de produção, ou seja, a quantidade, obviamente associada
às iniciativas como políticas de fomento, formação de associações e cooperativas
de produtores, o que contribui diretamente para o fortalecimento do setor,
propiciando aprimoramento de técnicas. Temos, também, nessas regiões, uma
relação mais próxima da produção de cachaça com a atividade turística, através
de roteiros já existentes, onde o turista visita
diretamente o alambique, podendo observar todo o processo de produção da
cachaça, história da casa, degustação e compra do produto no próprio alambique.
Página 11
Mas uma
variável que geralmente as pesquisas não contemplam, é o comparativo entre as
regiões no que diz respeito à qualidade da bebida, não levando também em
consideração seu valor patrimonial e o potencial turístico existente nas
regiões onde a cachaça é produzida em menor escala.
Tendo em
vista que estamos falando do Brasil, o país de origem da cachaça, sua produção
se estende, pelo menos, em escala artesanal, por praticamente todos os Estados,
inclusive o Rio Grande do Norte, que vem dando um bom exemplo de como produzir
uma cachaça de qualidade, mesmo que incipiente, já ocorre a
participação na realização de eventos locais, como festivais de gastronomia,
feiras e festivais de cachaça; os produtores saem do Estado para mostrar seu
valor ao mercado interno, como também externo. Um exemplo disso é a cachaça Samanaú da cidade de Caicó-RN, que
é exportada.
Devido a
suas características climáticas, o Rio Grande do Norte vem se destacando na
produção de cachaça artesanal de qualidade, onde temos como principais cidades
produtoras: Caicó, Nísia Floresta, Goianinha, Parnamirim e Pureza. E como principais marcas temos: Samanaú, Sibaúma, Papary, Mucambo, Maria Boa, Beira Rio, Extrema e Natal City.
Sendo o Rio
Grande do Norte um Estado de grande potencial turístico devido as suas belezas
naturais como: vegetação, relevo, clima, como também belezas artificiais: onde
no interior destacamos os açudes, barragens e a arquitetura em geral, não
deixando de lado seus valores culturais: a religiosidade, festejos, artesanato,
gastronomia, entre outros. Podemos perfeitamente fazer essa relação entre a
produção da cachaça artesanal com todo seu arcabouço histórico e técnico,
considerando os acontecimentos sociais, políticos e econômicos, com o turismo,
tendo em vista alguns pressupostos como: fabricação para exportação e
fabricação para o consumo interno.
6.
Considerações finais
A
importância do patrimônio cultural de um povo não está somente na manifestação
da cultura em si, mas está também na riqueza de conhecimentos, práticas e
valores que é transmitida de geração a geração. A valorização e preservação
desse patrimônio podem ser relevantes para grupos territoriais pequenos e
grandes, podendo envolver desde comunidades locais até um país inteiro. Uma das
formas de fazer tal uso do patrimônio cultural é combinando-o ao turismo,
fazendo nascer o que se chama de Turismo Cultural.
No contexto
brasileiro, a grande diversidade de símbolos culturais, envolta no processo de
globalização, tem sido tendenciada a não receber devida atenção e valor.
Considerando que cada elemento do patrimônio do país merece ser estudado, a fim
de despertar o interesse e consciência por sua valorização, decidiu-se, neste
trabalho, destacar a cachaça potiguar enquanto patrimônio cultural, associada a atividade turística.
Passando por
diversos processos de desenvolvimento em toda sua estreita relação com a
história do Brasil, a cachaça tem se feito presente no dia a dia da cultura
brasileira, chegando a ser usada como um atrativo turístico cultural.
Página 12
Já se percebe no Estado, algumas ações pontuais, que
demonstram a preocupação de mostrar ao turista a história, os usos e costumes
locais, onde os visitantes têm opções variadas de roteiros turísticos, do
turismo de sol e mar que é o cartão postal do Estado, passando por roteiros
histórico-culturais, de aventura, religiosos, entre outros, sem deixar de
provar a excelente cachaça potiguar em qualquer que seja sua opção de roteiro,
inclusive, devido ao potencial que está sendo levantado, um futuro roteiro
exclusivo de cachaças com a visitação aos nossos alambiques.
Notamos que,
ao longo dos anos, o cenário turístico no Rio Grande do Norte mudou bastante e
continua a mudar; nas últimas décadas ocorreu um crescimento satisfatório,
depois, por uma série de fatores externos e internos, ocorreu um declínio, e,
ultimamente, estão sendo retomadas e implementadas estratégias, por parte do
poder público, juntamente com a iniciativa privada, principalmente com a
participação efetiva dos polos de turismo regionais onde
essa dinâmica de participação de agentes de diversas esferas vem desenvolvendo
um trabalho satisfatório e profícuo.
O fato é que
a gastronomia tem sido um dos fatores permanentes que perpassou por todas essas
mudanças. Devido a nossa participação em eventos relacionados ao turismo
potiguar, percebemos que os itens de natureza gastronômica sempre estão
presentes, evidenciando a questão da identidade de cada região.
Em um
embarque juntamente com as comidas típicas de cada canto do Estado, a cachaça
vem ganhando notoriedade como produto regional, inclusive com o estudo de
harmonização com os pratos regionais expostos na carta das cachaças potiguares,
conseguindo cada vez mais chamar a atenção de curiosos, turistas e
apreciadores, conhecedores de uma cachaça de excelência, como também
despontando no cenário econômico.
A atividade
de produção de cachaça artesanal no Estado tem um grande potencial para o
crescimento, pois se percebe o esforço dos proprietários dos alambiques para
criarem uma imagem de inovação, mas ao mesmo tempo associada também -
corroborando com as teorias aplicadas no estudo - às tradições, à história, à
arte secular de fazer cachaça.
Com isso
pode ser gerado, através desse potencial, um tipo de oferta turística
diferenciada, usada para fins de desenvolvimento e promoção da região em âmbito
nacional e internacional.
A produção
de cachaça artesanal agrega proporcionalmente mais valor ao cultivo da
cana-de-açúcar do que outras atividades, as quais a mesma possa ser
direcionada. A partir do momento em que for acrescentado a essa produção a
atividade turística, acrescenta-se também valor a todas as etapas do processo,
inclusive as exportações, tendo em vista que através do turismo existe uma
maior facilidade em ultrapassar fronteiras, sendo capaz de proporcionar uma
maior visibilidade à cachaça potiguar em mercados ainda não contemplados,
colaborando para o escoamento mais eficaz, como também para a criação da imagem
de um produto associado a uma região.
Mais que informar, interpretar é revelar significados, é provocar
emoções, é estimular a curiosidade, é entreter e inspirar novas atitudes ao
visitante, pois a interpretação utiliza várias artes da comunicação humana -
teatro, literatura, poesia, fotografia, desenho, escultura (Murta, 2002).
Página 13
Assim, ao pensarmos nas bebidas nacionais, por que não
pensarmos no Brasil com sua cachaça, hoje mundialmente conhecida, sendo o Rio
Grande do norte também reconhecido no cenário turístico por sua arte em
produzir a bebida. Reconhecemos a ousadia do pensamento, mais acreditamos que é
possível de ser realizado devido ao potencial levantado no artigo.
Referências
Andrade, M.
M. (2003) Introdução à metodologia do
trabalho científico, 6 ed. São Paulo: Atlas.
Barretto, M. (2003).
“La delicada tarea de planificar turismo cultural: Un estudio de caso con la “germanidad” de la ciudad de Blumenau - SC (Brasil)”. Pasos Revista de Turismo y Patrimonio Cultural.
(Vol. 1) (pp. 51-63). N° 1.
Bornheim, G. A.
(1987) “O conceito de tradição”. In: Cultura Brasileira:
tradição/contradição.
Rio de Janeiro: Zahar
Bosi, A.
(1987) “Cultura como tradição”. In: Cultura
Brasileira: tradição/contradição. Rio de Janeiro: Zahar.
Brasil.
(1988) Constituição Federal.
Câmara, M.
(2004) Cachaça: prazer
brasileiro. Rio de Janeiro: Mauad.
Canclini, N. G.
(2008) Culturas híbridas. 4.ed. São Paulo: USP
Chuva, M. R.
R. (2009) Os arquitetos da memória:
a construção do patrimônio histórico e artístico Nacional no Brasil, nos anos
(1930-1940). Rio de Janeiro: Editora UFRJ.
Coelho, T.
(2008) A cultura e seu contrário:
cultura, arte e política pós-2001. São Paulo: Iluminuras: Itaú Cultural.
Dencker, A. F. M.
(2007) Pesquisa em turismo, 9 ed. São Paulo: Futura.
Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [IPHAN]. (2007) Patrimônio cultural imaterial: para
saber mais. Brasília, DF: IPHAN.
Instituto do
Patrimônio Histórico e Artístico Nacional [IPHAN]. (2008) Dicionário IPHAN de patrimônio cultural.
Rio de Janeiro: IPHAN, COPEDOC.
Fonseca, M.
C. L. (2009) O Patrimônio em processo:
trajetória da política federal de preservação no Brasil, 3
ed. rev. ampl. Rio de Janeiro: Editora UFRJ.
Febvre, Lucien. (1992) Combates
pela história. São Paulo: EdUNESP.
Leal, M. L.
M. S. (2005) A história da
gastronomia. Rio de Janeiro: Senac Nacional.
Londres, C.
(2001) Revista Tempo Brasileiro,
147. out./dez. Rio de Janeiro.
Mendes, A. R.
(2012) O que é Patrimônio Cultural.
Portugal: Gente Singular Editora.
Página 14
Ministério
do Turismo [MTUR]. (2007). Cultura e
turismo - Caminhos do Futuro. Ed. rev. e ampl.
São Paulo: IPSIS.
Murta, S.M.
(2002). Interpretar o patrimônio:
um exercício do olhar. Belo Horizonte: UFMG.
Pellegrini
Filho, A. (1997). Ecologia, cultura e
turismo, 2.ed. Campinas, SP: Papirus.
Rodrigues,
M. (2003). “Preservar e consumir: o patrimônio histórico e o turismo”. In: Funari, P. P. e Pinsky, J. (Orgs.), Turismo e
patrimônio cultural. 3 ed. São Paulo: Contexto.
Silva, J. M.
(2006) Cachaça: o mais
brasileiro dos prazeres. São Paulo: Anhembi Morumbi.
Figueiredo,
S. L.; Nóbrega, W.; Bahía,
M.; Piani, A. (2012) “Planificación
y gestión de las visitas al
patrimonio natural y cultural”. Estudios y Perspectivas en
Turismo, 21: 355 - 371
Silveira, Stefanie. (2014) Escócia
reúne atrações culturais, históricas e gastronômicas. Recuperado em 30 jun. 2020 de
Organização
das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura [UNESCO] (2003) Convenção para a salvaguarda do patrimônio
cultural imaterial. Paris.
CACHAÇA POTIGUAR: THE RELATIONSHIP WITH TOURIST ACTIVITIES FROM THE VIEW
OF CULTURAL HERITAGE
Abstract: The article
proposes to present a discussion about the value
of cachaça as cultural heritage
and its relation with tourism activities
in the State of Rio Grande do Norte. Supported
by a discussion based on historical
studies related to the tourism
sector, especially with regard to gastronomy,
cachaça is defined not only as an
important instrument for the construction of identities, but also as an
element capable of establishing social relations, political and economic. That
is, a tourist product capable of providing new destinations. The article
includes five stills located in the Eastern Potiguar and Seridó regions, which offer a historicity and significant production for the State of Rio Grande do Norte. In order to define the cut,
it is necessary to seek to
refine this selection, especially when dealing with historicalfacts
and legality of the establishments. Thus, it is necessary
to consider the trajectory of the stills, periods of greater
production and insertion in the tourist market. Through documentary surveys and observations
made in field
visits, the research has a qualitative approach with a descriptive and exploratory purpose, a methodology that allows us to
address issues around the articulations
between patrimony, identity and tourism
in the State.
Keywords: Cultural Heritage. Tourism. Rio Grande do Norte. Sugarcane
liquor.
Início das notas de rodapé:
Nota 1, página 1: Doutorando
e Mestre em Turismo pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte.
Especialista em História do Brasil pela Universidade Federal do Rio Grande do
Norte. Bacharel em Turismo pela Faculdade Católica Santa Teresinha. Guia de
Turismo Regional. Atualmente é colaborador - Serviço Brasileiro de Apoio às
Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE-RN). Tem experiência na área de Turismo, com
ênfase em Recreação, Guiamento, Turismo Histórico‑Cultural, Ecoturismo e
docência, atuando como professor na Faculdade Católica Santa Teresinha, Senac, PRONATEC. Faz parte do Conselho Gestor do Polo de
Turismo do Seridó. CV: http://lattes.cnpq.br/8327347518748445. E-mail:
paizitopaz@hotmail.com
Nota 2, página 1: Pós-doutora
pela Universidade de Roehampton-Londres-UK (2015).
Doutora em Sociologia pela Universidade de São Saulo/USP (2004). Mestre em
Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte/UFRN (1993).
Graduada em Ciências Sociais pela UFRN (1983). Atualmente, é professora
Adjunto III pela UFRN e Vice- líder da Base de Pesquisa Interdisciplinar
de Pesquisa em Turismo e Sociedade (UFRN). É membro: da Societé
Internationale de Sociologie
des Religions (SISR), da
Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS); do Grupo de Estudos sobre Culturas
Populares e do Grupo Mythos-Logos. Possui experiência
na área de Sociologia, Metodologia da Pesquisa Social e pesquisas relacionadas a área da Religião e Religiosidade popular, Cultura,
Família, Turismo, Cidade, Patrimônio, Identidade, Fotografia e Memória. CV: http://lattes.cnpq.br/1719643619018288. E-mail:
mluciabastos29@yahoo.com.br
Final das notas de rodapé.